Agricultura familiar foi tema de debate do encontro que contou também, com visitas às propriedades rurais.
Na última sexta-feira (3), foi realizado um evento em Santiago do Norte para debater o desenvolvimento econômico e agricultura familiar da região.
Situado na margem da BR-242, localizado a 545 km de Cuiabá (região Nordeste de Mato Grosso), Santiago do Norte é distrito de Paranatinga. Considerada importante fronteira agrícola e promissora rota para o escoamento de grãos do estado, deve ampliar obras de interligação asfáltica entre municípios do entorno ainda este ano, além da implantação da ferrovia Fico prevista para os próximos 6 anos, segundo o presidente da Associação de Moradores e do Movimento Pró BR-242, Odir Nicolodi, o “Caçula”, explica ao MT Econômico.
“A BR-242 é uma realidade e a Fico [ferrovia] também, não tem mais volta. Agora o trabalho é interligar essa nova logística do estado de Mato Grosso com a agricultura familiar. A obra de interligação da MT-130 deve começar até o final de julho deste ano. A ordem de serviço já foi dada. Fizemos uma parceria de R$ 400 mil com o governo do estado e estamos ajudando com R$ 200 mil da Associação, que tem apoio dos produtores e comércio local. A parceria contempla 26 km e ainda este ano deve ser concluído pelo menos 10 km”, disse Caçula.
Prazos e demais obras na região
“O trecho mais longo que interliga Santiago do Norte a Paranatinga, que falta 145 km de asfalto deve ser concluído em 3 anos. A MT-158 que interliga Querência, também em 3 anos. Já a ferrovia Fico, até 2025 estará em Santiago do Norte”, segundo relata Caçula à reportagem.
A BR-242, principal rodovia que corta a região deve ainda receber investimentos maiores do governo federal na atual gestão de Bolsonaro. Foi solicitado em Brasília, ao ministro Paulo Guedes e ao próprio presidente Jair Bolsonaro, por meio da Associação de Santiago do Norte e representantes políticos de Mato Grosso para que este ano, ou no próximo comece as obras de ampliação na estrada.
Ferrovia
A Fico - Ferrovia de Integração do Centro-Oeste foi apresentada como alternativa para melhor escoamento da produção por meio da palestra técnica do professor de logística e transporte da UFMT, Luiz Miguel de Miranda.
Os produtores e lideranças políticas acreditam que até 2025 o projeto da ferrovia se torne uma realidade para Santiago do Norte e região.
“Em média 70% do que é produzido no Brasil depende de escoamento do transporte rodoviário. Em Mato Grosso esse número é maior, cerca de 78 a 85%. Com excessão de Rondonópolis, que possui a ferronorte, o restante do transporte é feito tudo por caminhão, pois não temos outras ferrovias e nem hidrovias no estado. Nos países mais desenvolvidos esse número não passa de 45%. Com esse modal predominante do transporte rodoviário, estamos gastando cerca de 350 milhões a mais em óleo diesel por ano”, ressaltou Luiz Miguel.
“Cada vagão de trem cabem 2 caminhões. Portanto, para um total de 252 caminhões, precisaria de apenas 122 vagões, referente a 3 locomotivas”, compara o professor da UFMT.
Um dos desafios é destravar a obra da ferrovia que será construída pela empresa Vale. Após a tragédia de Brumadinho, da qual a Vale é responsável, o projeto ferroviário foi paralisado temporariamente.
Esse fato é questionado pelo senador Wellington Fagundes à reportagem do MT Econômico. “Temos que pressionar para que o projeto continue. A Vale é uma das maiores empresas do Brasil e do mundo. O problema que houve em Brumadinho, é claro, a Vale já está sendo penalizada, afinal de contas, tiveram muitas irregularidades, a CPI já está apurando isso, mas é bom lembrar, que a Vale inicialmente era um empresa pública e depois foi privatizada. É uma empresa que pertence a todos nós brasileiros e deve continuar seus projetos para o desenvolvimento do país. A melhor solução de logística para essa região de Mato Grosso que estamos é a ferrovia Fico. Não seria preciso nem fazer licitação, pois já está autorizado pela Tribunal de Contas, pois é uma extensão da concessão”, ressalta Wellington Fagundes.
Agricultura Familiar
A agricultura familiar foi tema de debate do encontro que contou também, com visitas às propriedades rurais.
“É uma região que está numa posição muito estratégia para a produção agrícola do estado. Quando vemos os grandes empresários investindo nos pequenos é algo único para mim. Saio daqui surpresa com tudo que eu vi. Plantação de mandioca, limão, produção de mel e muitas coisas. Isso mostra que a agricultura familiar ocupa menos espaço do que a grande produção e alimenta muitas ‘bocas’. É bem interessante vermos a grande e a pequena produção andando em conjunto. A MT-130 e a MT-129 tem que urgentemente sair do papel também. E com a união de tantos líderes políticos aqui presente, acredito que isso vai ser possível para fortalecer Santiago do Norte e toda a região”, disse a deputada estadual Janaina Riva, atual presidente em exercício da Assembleia Legislativa de Mato Grosso ao MT Econômico.
A visita de representantes políticos e do parlamento estadual na região acaba fomentando novos projetos em relação à agricultura familiar na Casa de Leis, segundo a deputada.
“Nessa visita também vi a produção de cachaça artesanal, que tem que ter um imposto diferenciado em relação à bebida que vem de fora para incentivar o produtor local. Vamos encaminhar na Assembleia um projeto de lei, juntamente com o deputado Dilmar e Claudinei sobre isso. Outras ideias vão surgindo para novos projetos também. E quando vemos essa necessidade, levamos a pauta para o plenário da Assembleia que passa a ser um assunto do estado de Mato Grosso”, completa Janaina à reportagem.
A grande dificuldade de Mato Grosso é dar oportunidade a algumas regiões, na visão do deputado estadual e líder do governo Dilmar Dal’Bosco.
“Já tivemos o incremento das regiões norte, oeste e sul do estado. E essa região aqui também precisa de atenção. A BR-242 é importantíssima para Mato Grosso, a MT-130 e a MT-129 também. É um eixo estruturante para que os municípios no entorno possam se desenvolver. A parceria com os produtores já foi firmada e o dinheiro está na conta do governo para iniciar obras por aqui”, disse Dilmar ao MT Econômico.
Outra observação do deputado é sobre a produtividade. “A região de Paranatinga tem quase 1 milhão de hectares que podem se tornar produtivos, por meio da tecnologia, conhecimento e produção. É muito importante para o estado”, completa o parlamentar.
Projeto Tecnológico da Agricultura Familiar
Santiago do Norte iniciará um projeto de tecnologia na agricultura familiar em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC Rio, segundo a professora de telecomunicações e novas tecnologias, Marlene Pontes, presente no evento, explicou ao MT Econômico.
“O Brasil precisa ter melhor produtividade, e isso só é possível com o uso da tecnologia. Nos últimos anos o país aumentou muito a demanda por alimentos. Durante 2 anos estaremos desenvolvendo um projeto tecnológico nessa região de Santiago no Norte. Os recursos que os grandes produtores já utilizam no campo, incluindo internet das coisas, uso de satélite para monitorar a produção, entre outros agregados tecnológicos, pretendemos implantar para os pequenos produtores também. A ideia é que os ‘pequenos’ também tenham acesso à tecnologia e possam monitorar muitas coisas por meio do celular, de forma customizada”, disse a professora Marlene à reportagem.
Segundo a FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations, até 2050 a população mundial será de 9,8 bilhões de habitantes, 29% a mais que o número atual. Para suprir a demanda de alimentos, a produção deve aumentar em 70% e o uso de tecnologia para auxiliar esse processo é de extrema necessidade ao setor produtivo.
Comercialização
A AMAD - Associação Mato-grossense de Atacadistas e Distribuidores, disse por meio do diretor executivo Marcos Taveira, que a entidade pretende apoiar os agricultores familiares da região para comercializarem seus produtos.
“Além de produzir, outro grande desafio dos agricultores familiares é comercializar. Pretendemos interligar a agricultura familiar com os distribuidores e atacadistas do estado. A fécula da mandioca, o polvilho azedo e doce tem um grande consumo em Mato Grosso para fazer pão de queijo e biscoito. A AMAD está nesse processo de interligar as partes interessadas para ajudar o desenvolvimento local”, disse Marcos.
O representante da AMAD explicou também sobre a dificuldade que o setor atacadista tem em relação à guerra fiscal dos demais estados. “Estamos cercados por paraísos fiscais. Nós não temos competitividade para vender a outros estados, pois faltam políticas públicas voltadas para incentivar a comercialização. Estamos cercados por Rondônia, Minas Gerais e Goiás, por exemplo, que tem políticas mais favoráveis e acabam tomando parte do território de Mato Grosso. As grandes multinacionais conseguem chegar em nosso estado com um produto mais barato, por meio de atacadistas de Goiás, devido a carga tributária menor que possuem. Isso prejudica muito o empresariado de Mato Grosso. É uma concorrência desleal. Quando for discutida a reforma tributária é preciso pensar em como equilibrar isso entre os estados do Brasil. Se isso for resolvido ou pelo menos melhorar, a guerra não será mais de preços, mas da melhor prestação de serviços”, disse Marcos Taveira ao MT Econômico.
O representante da AMAD disse também que a diferença da carga tributária é grande. “Apenas um atacadista do estado de Goiás fatura mais do que os 60 maiores atacadistas de Mato Grosso. Só para se ter uma ideia, em termos de carga tributária, quando esse atacadista de Goiás vende para outros estados, paga em torno de 1 a 2% de ICMS. Em alguns casos pagam até menos de 1%. Hoje, se Mato Grosso for vender para outros estados, chega a pagar 12% de ICMS” compara o diretor executivo da Associação dos Atacadistas.
O evento realizado em Santiago do Norte contou com representantes do poder executivo e legislativo estadual e federal, prefeitos e vereadores dos municípios da região, produtores rurais, professores, empresários, comerciantes e investidores.
No final de fevereiro deste ano a Comissão Pró-BR-242 se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro para tratar de logística da região, conforme publicado anteriormente pelo MT Econômico.
Redação MT Econômico